terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Emigração: desejo ou necessidade?

Por estes dias muito se fala de emigração. Lançam-se crónicas nos jornais de maior tiragem nacional, assistem-se a grandes reportagens nos principais espaços informativos da televisão portuguesa, escreve-se e comenta-se nas redes sociais a respeito deste tema. Todos tem um opinião a dar, e ainda bem que assim é. Quando se trocam opiniões, agitam-se as mentes, lê-se mais, investiga-se, procura-se conhecimento. Ou então não... Opina-se e pronto...

O tema emigração nunca esteve tão actual como hoje, mas não é um fenómeno novo, nem a nível nacional, nem tão pouco a nível global. Desde a fundação da humanidade, que existe necessidade de mudar de território quando os recursos se esgotam. Evidentemente que nos dias de hoje, falamos de outro tipo de recursos, e a uma escala completamente diferente. No que a Portugal diz respeito, estamos neste momento a assistir à terceira fase migratória desde que existem registos. A primeira no início do século XX, a segunda nos anos 60 e 70 do mesmo século, e a terceira que se iniciou no início do século XXI e que agora vivenciamos. Mas o que mudou?

Na realidade mudou tudo! As pessoas que emigram são diferentes, a sociedade em que estão inseridas e as motivações também são outras, o que leva as pessoas a procurarem outros objectivos, outros países, outras condições. Na minha opinião, existem dois grandes tipos de emigrantes. 
O primeiro tipo, e talvez o mais parecido com os emigrantes das outras fases migratórias, é constituído por pessoas que são forçadas a emigrar. Ou seja, são pessoas que não tinham qualquer intenção de deixar Portugal, simplesmente fizeram-no porque deixaram de ter condições de subsistência, faltou-lhe o trabalho, as contas acumularam-se e não tiveram outra solução senão partir rumo a um destino mais favorável. São pessoas de qualquer grau académico, muitas delas com famílias estruturadas (a dita família normal, se bem que o conceito de normal tem sido alterado - e ainda bem!), mas que tem de partir. São forçadas a fazê-lo.

O segundo grupo é constituído por aqueles a que eu gosto de chamar "Os inconformistas". Muitos deles tem trabalho (adequado á realidade que o país atravessa), mas querem mais. Mais dinheiro, mais desafios profissionais, um cargo superior a que não terão acesso se continuarem em Portugal, querem conhecer novas culturas, mudar de ares, procurar outros horizontes, crescer. Sentem que necessitam de "levantar a âncora" para poderem crescer. Não emigram porque são obrigados, mas porque querem. E são muitos! Geralmente são pessoas que vivem para o trabalho, que estão focados em objectivos (a curto, médio prazo) relacionados com a carreira. Por norma partem à aventura, conscientes de que alguns sacrifícios compensarão no futuro. Mais do que sair do pais, juntar uns trocos para regressar a Portugal e comprar uma casa, querem viver e experiênciar o que o mundo tem para oferecer. Acreditam que o mundo tem muito mais para oferecer, e têm razão. O mundo apresenta-se como uma fonte inesgotável de desafios.

Mas então sabendo que existem estes dois grandes grupos (é um facto, é inegável assumir que assim seja), porque se focam a maioria das reportagens, das crónicas, das entrevistas apenas no primeiro grupo? No emigrante desgraçadinho da "mala de cartão"? No português que até estudou, como lhe foi sugerido, e que agora é abandonado pelo seu querido Portugalinho e tem de se fazer à angustia de abandonar o seu pais?  Sinceramente não tenho uma resposta concreta para dar, mas sinceramente acredito que é uma característica portuguesa, está enraizado na mentalidade dos lusos. Um povo sofredor, que tem de se descrever como tal, conformado com que a vida lhe reservou, triste e melancólico... Mas na realidade os portugueses não são nada assim, ou até são, mas porque estão inseridos numa nuvem que os "obriga" a tal. Porque no dia em que os portugueses "saem da casca" a que chamam país, tudo muda. E como muda!  É um povo que bem recebe, que se adapta, que se mistura, que se diverte e que diverte os outros. Mas dar o passo é difícil, sair da zona de conforto pode ser complicado...

E por ironia do Destino, quando um "Tuga" brilha no estrangeiro, é a jóia da coroa, perdão da República! Os media gastam litros de tinta, minutos de reportagens, centenas de imagens a valorizar o que é nosso. E aí surge a questão: mas então este talento foi desperdiçado pelo seu próprio país? Esta mente brilhante? Nessa altura surgem os inconformistas que gritam a plenos pulmões: estes talentos saíram obrigados de Portugal? Não! Estes eram aqueles que secretamente, gritavam, fervilhavam, ansiavam por mais! Eram aqueles que conseguiam pagar as suas contas sempre a tempo, aqueles que viviam com algum conforto em Portugal, mas que quiseram ir á luta, eram aqueles que tinham um sonho. Um sonho demasiado grande para ficar preso em pouco mais de 92 mil kms quadrados, plantados à beira do Atlântico. Foram os que ousaram seguir um impulso. São os que partilham o mesmo espírito empreendedor dos fundadores do que outrora foi o primeiro império global da história e também maior império colonial europeu. 

E para finalizar, convém não esquecer, que apesar de toda a propaganda exercida pelos meios de comunicação social, os números actuais de emigrantes, ainda não alcançaram os dados das décadas de 60 e 70, estão lá perto, mas ainda não alcançaram. O que faz confusão a esta gente, é que no passado quem emigrava eram os "pobrezinhos" hoje em dia são "os senhores doutores", mas num país onde o número de licenciados continua a aumentar vertiginosamente, não podemos achar estranho que não haja espaço para todos dentro de portas. É uma questão de bom senso, quando a oferta é maior que a procura, alguém tem que ficar de fora.


O emigrante português, visto pela maioria. Mudam-se os tempos, mas o ar triste, e melancólico continua lá, afinal há coisas que nunca mudam... Como é o caso das mentalidades, todos dizem que são mais tolerantes, respeitadores, que têm uma mente "aberta e arejada", mas... têm mesmo? (Imagem retirada da internet)

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