sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Saudade

Saudade... Palavra que define um misto de sentimentos. Numa só palavra a associação de várias emoções como é o caso de falta, ausência, perda. Também relacionado com distância física, emocional ou ambas. Mas porque sentimos saudades? Sentimos saudades apenas do que já possuímos e perdemos, ainda que essa perda possa ser apenas temporária (no espaço e/ou no tempo). Por norma, aplicamos a palavra "saudade" apenas a pessoas ou a situações, também elas associadas a pessoas. Ou seja, temos saudades de uma pessoa em específico, ou de determinada situação que evolvia física ou emocionalmente essa pessoa, como por exemplo, umas férias, um episódio, um momento... No que aos objectos diz respeito, normalmente diz-se que se tem falta, e não que se tem saudades. Por isso é que é tão comum ouvir-se dizer que a palavra "saudade" só existe na língua portuguesa (embora também exista no galego). A maioria dos idiomas, não tem facto, uma única palavra que reúna todos estes sentimentos e emoções. Os portugueses são de facto um povo emotivo. Não quer dizer que outros povos não o sejam, evidentemente que o são, mas os portugueses não evitam expressar os seus sentimentos. E sempre assim foi. Não é por acaso que a música mais característica do povo português é o Fado. Acredita-se que a palavra "saudade" tenha nascido por altura dos descobrimentos portugueses, quando os navegadores rumaram ao desconhecido. Por essa altura, as famílias e amigos ficavam meses ou até anos, sem saber qualquer notícia dos seus. Esse misto de sentimentos (a falta, a incerteza, o medo, a angústia, a dor, a hipótese da perda) deram origem à criação de uma palavra que definisse tudo isso: nasce então a palavra Saudade! 
Existem vários "graus de saudade", provavelmente o mais comum e o mais forte é quando se perde um ente querido. Quando uma pessoa que nos é querida morre, sentimos saudades. E esse sentimento nunca se perde, pelo contrário, esse sentimento vai-se agudizando no tempo, porque sabemos que é uma situação irreversível. E é aqui, que esta palavra se torna tão diferente de todas as outra que representa, isto porque, podemos ter saudades sem estarmos angustiados ou tristes, simplesmente sentimos falta daquela pessoa em particular, mas não é forçoso que isso nos provoque tristeza. Sentimos saudades, dos momentos que partilhámos com essa pessoa, de a podermos voltar a ver, a abraçar, a sentir, mas isso não é condição essencial para que estejamos tristes ou angustiados, simplesmente existe um desejo de poder repetir esses momentos, de poder voltar a estar com essa pessoa. Pessoalmente acredito que é óptimo sentir-se saudade, e não digo isto por ser masoquista. Mas...se sentimos saudades é porque já experienciámos determinadas situações, que já privámos com determinadas pessoas e por diversas razões, fomos forçados a quebrar essa ligação, a adiar esse contacto. Acredito que nada é eterno, e por esse motivo gosto de sentir saudades. É um sinal claro de que vivi, que experienciei bons momentos, que me cruzei com pessoas que me marcaram de forma positiva,  isto porque... ninguém tem saudades de coisas más, de pessoas que não gosta, de situações incómodas.

P.S - Ontem, dia 30 de Janeiro, celebrou-se o Dia da Saudade.



"As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir
São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perde
(...)" 

Mariza -Chuva

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Amor vs Carreira

Continuo a não acreditar na felicidade plena. Ou se tem um bom emprego e por conseguinte um bom ordenado e uma vida minimamente confortável, ou se tem o amor. Para mim estes dois "temas" são como duas faces da mesma moeda. Não existe uma única perspectiva em que se consiga visualizar com nitidez, a cara e a coroa. E mesmo quando uma moeda está "em pé", o equilíbrio não existe. Afinal, não vemos nem a cara nem a coroa. O amor e a carreira, andam sempre lado a lado, mas nunca se tocam. Não é possível. Desculpem lá o desabafo, mas hoje estou "rezinga", estou descrente e vou agarra-me à "bóia" que me garante melhores hipóteses de viver para contar a história. Escolho a Carreira. Só depende de mim! A carreira, o futuro promissor, depende quase na totalidade de quem se esforça e trabalha, quanto ao Amor... ai o amor... Olha falaremos disso mais tarde! Num dia mais azul, numa mesa de café ou... talvez num livro...

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Emigração: desejo ou necessidade?

Por estes dias muito se fala de emigração. Lançam-se crónicas nos jornais de maior tiragem nacional, assistem-se a grandes reportagens nos principais espaços informativos da televisão portuguesa, escreve-se e comenta-se nas redes sociais a respeito deste tema. Todos tem um opinião a dar, e ainda bem que assim é. Quando se trocam opiniões, agitam-se as mentes, lê-se mais, investiga-se, procura-se conhecimento. Ou então não... Opina-se e pronto...

O tema emigração nunca esteve tão actual como hoje, mas não é um fenómeno novo, nem a nível nacional, nem tão pouco a nível global. Desde a fundação da humanidade, que existe necessidade de mudar de território quando os recursos se esgotam. Evidentemente que nos dias de hoje, falamos de outro tipo de recursos, e a uma escala completamente diferente. No que a Portugal diz respeito, estamos neste momento a assistir à terceira fase migratória desde que existem registos. A primeira no início do século XX, a segunda nos anos 60 e 70 do mesmo século, e a terceira que se iniciou no início do século XXI e que agora vivenciamos. Mas o que mudou?

Na realidade mudou tudo! As pessoas que emigram são diferentes, a sociedade em que estão inseridas e as motivações também são outras, o que leva as pessoas a procurarem outros objectivos, outros países, outras condições. Na minha opinião, existem dois grandes tipos de emigrantes. 
O primeiro tipo, e talvez o mais parecido com os emigrantes das outras fases migratórias, é constituído por pessoas que são forçadas a emigrar. Ou seja, são pessoas que não tinham qualquer intenção de deixar Portugal, simplesmente fizeram-no porque deixaram de ter condições de subsistência, faltou-lhe o trabalho, as contas acumularam-se e não tiveram outra solução senão partir rumo a um destino mais favorável. São pessoas de qualquer grau académico, muitas delas com famílias estruturadas (a dita família normal, se bem que o conceito de normal tem sido alterado - e ainda bem!), mas que tem de partir. São forçadas a fazê-lo.

O segundo grupo é constituído por aqueles a que eu gosto de chamar "Os inconformistas". Muitos deles tem trabalho (adequado á realidade que o país atravessa), mas querem mais. Mais dinheiro, mais desafios profissionais, um cargo superior a que não terão acesso se continuarem em Portugal, querem conhecer novas culturas, mudar de ares, procurar outros horizontes, crescer. Sentem que necessitam de "levantar a âncora" para poderem crescer. Não emigram porque são obrigados, mas porque querem. E são muitos! Geralmente são pessoas que vivem para o trabalho, que estão focados em objectivos (a curto, médio prazo) relacionados com a carreira. Por norma partem à aventura, conscientes de que alguns sacrifícios compensarão no futuro. Mais do que sair do pais, juntar uns trocos para regressar a Portugal e comprar uma casa, querem viver e experiênciar o que o mundo tem para oferecer. Acreditam que o mundo tem muito mais para oferecer, e têm razão. O mundo apresenta-se como uma fonte inesgotável de desafios.

Mas então sabendo que existem estes dois grandes grupos (é um facto, é inegável assumir que assim seja), porque se focam a maioria das reportagens, das crónicas, das entrevistas apenas no primeiro grupo? No emigrante desgraçadinho da "mala de cartão"? No português que até estudou, como lhe foi sugerido, e que agora é abandonado pelo seu querido Portugalinho e tem de se fazer à angustia de abandonar o seu pais?  Sinceramente não tenho uma resposta concreta para dar, mas sinceramente acredito que é uma característica portuguesa, está enraizado na mentalidade dos lusos. Um povo sofredor, que tem de se descrever como tal, conformado com que a vida lhe reservou, triste e melancólico... Mas na realidade os portugueses não são nada assim, ou até são, mas porque estão inseridos numa nuvem que os "obriga" a tal. Porque no dia em que os portugueses "saem da casca" a que chamam país, tudo muda. E como muda!  É um povo que bem recebe, que se adapta, que se mistura, que se diverte e que diverte os outros. Mas dar o passo é difícil, sair da zona de conforto pode ser complicado...

E por ironia do Destino, quando um "Tuga" brilha no estrangeiro, é a jóia da coroa, perdão da República! Os media gastam litros de tinta, minutos de reportagens, centenas de imagens a valorizar o que é nosso. E aí surge a questão: mas então este talento foi desperdiçado pelo seu próprio país? Esta mente brilhante? Nessa altura surgem os inconformistas que gritam a plenos pulmões: estes talentos saíram obrigados de Portugal? Não! Estes eram aqueles que secretamente, gritavam, fervilhavam, ansiavam por mais! Eram aqueles que conseguiam pagar as suas contas sempre a tempo, aqueles que viviam com algum conforto em Portugal, mas que quiseram ir á luta, eram aqueles que tinham um sonho. Um sonho demasiado grande para ficar preso em pouco mais de 92 mil kms quadrados, plantados à beira do Atlântico. Foram os que ousaram seguir um impulso. São os que partilham o mesmo espírito empreendedor dos fundadores do que outrora foi o primeiro império global da história e também maior império colonial europeu. 

E para finalizar, convém não esquecer, que apesar de toda a propaganda exercida pelos meios de comunicação social, os números actuais de emigrantes, ainda não alcançaram os dados das décadas de 60 e 70, estão lá perto, mas ainda não alcançaram. O que faz confusão a esta gente, é que no passado quem emigrava eram os "pobrezinhos" hoje em dia são "os senhores doutores", mas num país onde o número de licenciados continua a aumentar vertiginosamente, não podemos achar estranho que não haja espaço para todos dentro de portas. É uma questão de bom senso, quando a oferta é maior que a procura, alguém tem que ficar de fora.


O emigrante português, visto pela maioria. Mudam-se os tempos, mas o ar triste, e melancólico continua lá, afinal há coisas que nunca mudam... Como é o caso das mentalidades, todos dizem que são mais tolerantes, respeitadores, que têm uma mente "aberta e arejada", mas... têm mesmo? (Imagem retirada da internet)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Porque temos Medo? Porque nos deixamos dominar por este sentimento?

Existem diversas definições, consoante o ponto de vista, a área a que está afecto e evidentemente, dependendo de quem define, mas de uma forma simples podemos definir como "(...) uma perturbação angustiosa perante um risco ou uma ameaça real ou imaginária. O conceito também se refere ao receio ou à apreensão que alguém tem de que venha a acontecer algo contrário àquilo que pretende.(...)". Falamos de medo. O medo existe, é o que permite ao Homem "decidir" como se comporta perante determinado acontecimento. Este sentimento é o responsável pelo mecanismo fisiológico denominado "Fight-or-flight", que traduzido à letra pode ser algo como "lutar ou fugir". Mas que mecanismo é este? Não é mais que uma resposta fisiológica, induzida por um desencadear de factores hormonais que permitem a um animal, o Homem incluído, reagir numa situação de stress agudo, como é o caso de um medo repentino. É a reacção fisiológica, incontrolável, que permite ao indivíduo reagir perante o stress agudo, quando se encontra "encostado entre a espada e a parede". Perante essa situação e como as próprias palavras indicam tem duas hipóteses, a fuga ou a luta. Evadir-se ou encarar o problema de frente e lutar. Evidentemente que no mundo animal, a luta implica um confronto físico, mas nós Seres Humanos, lutamos de que forma? De várias. Incluindo o confronto físico. Todas as formas de luta são encaradas como um encarar do problema, o enfrentar de uma situação com o objectivo de obter uma resposta, de alcançar um objectivo.

Mas quando somos dominados pelo medo, qual o caminho mais fácil? Depende. Depende da situação que nos é apresentada, depende da temática em questão. Mas uma coisa é certa, o medo é o responsável pelo hipotecar de situações, pelo dilacerar de sentimentos, pela manutenção da nuvem negra a que vulgarmente chamamos dúvida. O medo mais comum é o medo do futuro. Quantas vezes, por medo, deixamos de fazer isto ou aquilo? Deixamos de dizer o que pensamos, com medo do que os outros possam pensar, da interpretação que os outros vão dar ás nossas palavras. O medo está sempre presente. Então de que forma podemos combater este medo? Bom, não existe uma receita mágica, ou guideline que nos diga o que fazer perante esta ou aquela situação. Depende de cada um, do modo como cada um encara a vida e dos seus objectivos perante a própria vida.

E depois há a questão da bagagem. Como seres pensantes e racionais não conseguimos viver situações presentes ou pensar no futuro sem involuntariamente implicar o nosso passado. As nossas vivências passadas, influenciam todos os passos que damos hoje, ou que iremos dar no futuro. Mas isto não é forçosamente mau. É extremamente importante aprender com o passado, é assim que o Ser Humano evolui, mas não podemos deixar que o passado influencie de forma negativa o presente ou o futuro. Temos a obrigação, como seres racionais que somos, de analisar o passado e elaborar estratégias para um presente e um futuro melhores. Mas é isso que acontece na prática? Tenho de dizer que não! A maioria das pessoas escuda-se no medo para evitar desilusões e frustrações. É comum ouvirmos dizer: "nunca mais me volto a apaixonar, assim não me volto a magoar" ou "não quero pensar se vou ser promovido ou não, anseio por mais, mas pelo menos já sei com o que conto agora. Não vou trocar o certo pelo incerto." ou ainda "cuidado! Quanto maior o sonho maior a queda". E eu agora pergunto? Quem não ama é mais feliz do que aquele que ama e tem um desgosto de amor? Quem tem medo de evoluir na carreira está satisfeito com o lugar que ocupa no presente? Não quer mais? Será mais feliz o que vê alguns sonhos desfeitos, do que o que simplesmente não sonha? Temo que a resposta a todas estas perguntas seja um grande não!
Então porque a maioria das pessoas se comporta desta forma. A resposta está na primeira linha deste texto: por medo! O medo é um sentimento tão forte que ou é combatido ou te vence de forma irremediável, mas com a vantagem que quando é enfrentado torna-se quase inexistente. Porque não existe nenhum "João sem medo". O medo existe e está lá, tem de estar. É um sinal de inteligência ter medo, mas é um sinal de inteligência ainda maior, ter coragem para dominar esse medo. O medo é o que transforma as palavras: viver em sobreviver, lutar em acomodar, batalhar por desistir ou evoluir por involuir. Com base em tudo isto, cabe-me a mim perguntar: porque a maioria das pessoas prefere sobreviver em vez de viver?