sábado, 1 de fevereiro de 2014

Acto de Praxe? Claro que não!

Pensei muito em escrever este texto. Não pela temática em si, apesar da polémica, mas por ser agora. Acredito que há timings para tudo e contrariamente à maioria das pessoas, nunca gostei de comentar determinados assuntos, ver filmes que são catalogados como verdadeiras obras primas da sétima arte, ou ler livros, assim que são lançados quando estes já vêm com uma critica fortemente associada. Sempre preferi deixar arrefecer estas febres e depois então comentar, ver, ler, julgar... E tudo isto por uma razão, quando existe uma carga emocional muito forte, o ser humano tem tendência a não conseguir separar as suas emoções das emoções externas (como é o caso das críticas, comentários, opiniões de terceiros) o que acaba por falsear o objectivo a que me propus inicialmente, ou seja, opinar por mim, sentir por mim, ver com os meus olhos. Tudo isto para falar de um dos assuntos do dia na sociedade portuguesa: as praxes.

Como vem sendo hábito da imprensa portuguesa, e com tendência a piorar, a especulação é a principal âncora de qualquer furo jornalístico e por esse motivo nem sempre as coisas são o que parecem. Neste caso concreto "A Tragédia do Meco" - como muitos apelidaram, não me cabe a mim julgar o que quer que seja, porque segundo sei, ainda ninguém sabe de nada. Quem estava lá e sobreviveu, não fala e ainda ninguém consegui apurar coisa alguma.

No entanto e relativo às praxes, sou a favor. E antes que seja crucificado em praça pública, vou explicar porquê. A praxe, na sua essência e pelo que é suposto, tem como objectivo a integração de um grupo de pessoas (os caloiros) numa sociedade específica (o meio universitário), deste modo só posso ser a favor. Excepções, como em tudo na vida, são isso mesmo, excepções e por isso não devem ser motivo para anular uma regra, mas já lá vamos. Não nos podemos esquecer, que quando a praxe foi fundada a sociedade era muito diferente do que é hoje. A grande maioria dos estudantes, deixava as suas casas para ir estudar para centenas de kms de distância. Havia poucas universidades, as cidades portuguesas estavam temporalmente muito distantes umas das outras, muitos dos alunos vinham a casa duas vezes por ano, alguns nem isso. A família universitária era isso mesmo, a única família de muitos deles e por muitos e longos meses. O objectivo era um só, a união e a integração de vários alunos "desenraizados" numa família. Pessoas de diferentes classes sociais, de vários pontos do país, com um objectivo comum: estudar e tirar um curso superior. Aliás foi essa o motivo da criação do traje académico. A uniformização de pessoas, de meios, de classes económicas.

Fui estudante em Coimbra, praxei e fui praxado. Escolhi Coimbra porque quis. Fui praxado porque quis e praxei porque quis. Nunca fui obrigado a nada. Conheço quem não tenha querido ser praxado, e não foi. Quem tenha querido praxar e desistiu, porque simplesmente não queria ou não gostava. Nunca assisti, nem conheço ninguém, que tenha tido necessidade de participar em rituais, como os descritos na "Tragédia do Meco". Pelo menos, não associados a praxe académica, mas isso já são "outros quinhentos". Que o que se passou foi um acidente? Não tenho dúvida nenhuma! Que é de lamentar que se tenham perdido vidas em algo tão ridículo? Obviamente que sim! Mas não acredito que nenhuma daquelas pessoas, tenha participado de forma involuntária. Podiam não saber ao que iam, na sua totalidade, mas as pessoas têm de usar a cabeça, pensar por si próprio e decidir em consciência os passos que dão. Não estou a desculpar actos violentos, que colocam a integridade física em risco (como já aconteceu no passado em algumas universidades em sede de praxe), isso não tem desculpa e deve ser punido com mão pesada, mas mais uma vez não saber "separar o trigo do joio" não me parece ser o caminho a seguir.

E contrariamente a muitas etapas, desafios e obstáculos que existem na vida académica, a integração na praxe é voluntária. Não é o serviço militar e mesmo esse, também já é voluntário (felizmente!) só o integra quem quer. E sinceramente, podem tê-lo apelidado como acto de praxe académica, mas o que se passou naquele dia no Meco, não tem nada a ver com praxe académica, nada! Onde já se viu, assinar termos de responsabilidade, onde está escrito que um dos riscos possíveis é a integridade física do aluno, para ser praxado? Por favor não sejamos inocentes. Falta deslindar muita coisa!

1 comentário:

  1. Concordo plenamente ctg mano.....A praxe academica faz parte da integraçao na vida academica....p quem quer....cm é óbvio pois conheço mta gente que n quis ser praxado e nao foi....nada lhes aconteceu!

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